Entrou em vigor ontem a Lei Federal 12.796, que obriga pais ou responsáveis a matricular as crianças na escola a partir dos 4 anos. Estados e municípios têm o dever de garantir o atendimento da demanda, com prazo para se adequar até 2016.
Hoje, 1.422 crianças de 4 e 5 anos estão fora da escola por falta de vagas
na região. Diadema é o município com o maior deficit para esta faixa
etária, com fila de espera de 929 pequenos. Em São Bernardo, são 333, e
em Ribeirão Pires,160. Santo André, São Caetano e Mauá afirmaram que
atendem 100% dos interessados. Rio Grande da Serra não respondeu.
Conforme explica a presidente da Undime
(União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) e secretária de
Educação de São Bernardo, Cleuza Repulho, há expectativa de que aumente a
demanda por vagas. Isso devido à obrigatoriedade de os pais
matricularem os filhos e ao aumento da população. "É preciso pensar não
só na criação de escolas como também de cargos na Educação. Será
necessário contratar mais professores", destaca.
De acordo com Cleuza, o ingresso da criança
mais cedo na escola traz benefícios a médio e longo prazos. "Vários
estudos mostram que há melhor desempenho na vida acadêmica e no mercado
de trabalho", justifica.
Na avaliação da coordenadora do curso de
Pedagogia da PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Maria
Estela Graciani, a população não teve tempo de fazer discussão
aprofundada sobre o tema antes da aprovação da lei. No entanto, a
mudança atende à nova tendência de sociedade, na qual crianças estão
adaptadas às novas tecnologias cada vez mais cedo.
Segundo Maria Estela, a sociedade moderna
proporcionou uma "adultização precoce nas crianças" e a educação formal
precisa acompanhar. "O atendimento especializado mais cedo ajuda desde o
desenvolvimento motor, de criatividade, até da maturidade da criança",
observa.
Nesta fase do aprendizado, o ensino deve
atender exigências físicas das crianças e, por isso, ser feito de
maneira lúdica, na visão da especialista. "Todas as atividades nesta
etapa são encaradas como brincadeiras", esclarece Maria Estela.
Outras mudanças
A Lei 12.796 incorpora à LDB (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional) emenda constitucional aprovada
em 2009, que tornou obrigatório ao governo oferecer Educação Básica e
gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, assegurada inclusive para todos os
que a ela não tiveram acesso na idade própria.
A nova lei ainda estabelece que a Educação
Infantil - assim como os ensinos Fundamental e Médio - tenha carga
horária mínima anual de 800 horas, distribuídas por no mínimo 200 dias
letivos. O atendimento à criança deve ser, no mínimo, de quatro horas
por dia para o turno parcial e de sete para o integral. Além disso, a
pré-escola também deve fazer controle de presença dos alunos, exigindo a
frequência mínima de 60% do total de horas.
A lei em vigor desde ontem também torna mais
específico o atendimento que os governos devem prestar aos estudantes
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação. Eles devem, preferencialmente, ser
matriculados na rede regular de ensino, "independentemente do apoio às
instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
exclusiva em educação especial."
O texto ainda explicita que o conteúdo exposto em sala de aula deve considerar e valorizar diversidade étnico-racial.
Pais podem ser responsabilizados por não buscarem vagas
O presidente da Comissão da Infância e
Juventude da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Bernardo, Ariel
de Castro Alves, explica que a nova legislação aponta o dever dos pais
de matricular filhos a partir dos 4 anos na escola. "Caso não o façam,
podem ser responsabilizados."
Se não houver vagas na rede, os municípios
devem justificar por escrito o motivo e qual o prazo para que isso
ocorra, incluindo a criança em lista de espera. "Como a Emenda
Constitucional trata da implementação progressiva, é possível que as
prefeituras sejam questionadas pelos conselhos tutelares e pelas
promotorias da Infância e Juventude e terão que provar que estão
ampliando as vagas e a rede de ensino", diz Alves.
Na visão do advogado, outras mudanças na
legislação, como a garantia de acesso a pessoas com deficiência e o
respeito à diversidade étnico-racial, também serão desafios para o poder
público. (Camila Galvez)
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